Violeta Extravagante
Querido Diário


Este chaparro é meu amigo

Não vou falar da Quercus, mas sim do Quercus Suber, mais conhecido por sobreiro ou chaparro.
Adoro chaparros, das árvores claro, não dos homens a quem depreciativamente chamamos chaparros (até acho mal...o chaparro é uma árvore linda, sólida e imponente e os chaparros de duas pernas com quem nos cruzamos - para mal dos nossos pecados -  amiudamente são uns broncos, uns cabeça dura, uns saloios e como diria a prima do norte, uns azeiteiros...).

Ora isto tudo porque no meio das gordas do jornal Público de hoje, li que a Entidade Regional de Turismo quer ver o montado classificado pela UNESCO. Parece que a ideia é valorizar um ecossistema "único no mundo".

Ia continuar a ler a noticia mas o Tico e o Teco sentaram-se os dois e começaram a sonhar...
Lembrei-me das minhas férias de Verão, passadas no Alentejo em casa da minha avó, brincar de baixo de chaparros. O que me lembro mais é da paciência que eu tinha em fazer casinhas de pedra e pauzinhos onde eu guardava bolotas de diversos feitios e tamanhos que não eram mais que o meu gado e os meus rebanhos....passava horas naquilo. Eu tinha bonecas, até uma Barbie eu tive, carrinhos, jogos, livros, mas tudo isso era para eu brincar em casa, na minha casa em Lisboa.
Ali no meio do campo, com tanta coisa para ver e aprender, onde o tempo não tinha tempo e a vida passava ao sabor da calma alentejana, sentia que os meus brinquedos não faziam sentido.

Quando eu estava de férias no Alentejo, eu queria era correr pelos campos, saber o nome das árvores, das plantas e de tudo o que se cultivava na horta. Queria andar de mangueira na mão de rego em rego a regar o tomate, os pimentos, o feijão verde. Queria era andar de sacho na terra a tirar as daninhas que teimavam em nascer com a frescura das regas.
Queria era subir às árvores, apanhar fruta, que a limpava à roupa que me sabia à melhor fruta que alguma vez tinha comido.
Queria era andar atrás da minha tia para ela me deixar amassar o pão, tender as filhoses, enfeitar os folares, fazer as compotas.

Quando hoje lia as gordas do Público, foram emoções, recordações, cheiros, memórias de quando a vida era vivida com prazer, como o prazer de descansar de baixo de um chaparro quando a calma (o calor) não se aguentava...
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